Marcelo Comité*
Desde o escândalo do caso Facebook-Cambridge Analytica em 2014, quando dados pessoais de usuários foram utilizados por políticos para influenciar a opinião de eleitores em diversos países, as fake news se tornaram foco de preocupação em todo o mundo. Em ano eleitoral, a efervescência de conteúdos mentirosos fica ainda mais contundente, exigindo medidas por parte das autoridades para conter sua disseminação.
Dentro desse contexto, a tecnologia passa a desempenhar papel fundamental no apoio às providências necessárias para impedir que o rumo do país seja comprometido em razão de notícias falsas. Refiro-me tanto às barreiras adotadas pelas plataformas para impedir sua propagação quanto aos recursos inteligentes implementados para combater trechos críticos de informação – a tão falada Inteligência Artificial (IA).
Sabemos o quanto este recurso vem agregando valor a setores importantes da economia, como financeiro, varejo, saúde, entre outros. Este ano, a expectativa é que o segmento de segurança também se utilize do potencial da IA para auxiliar nas investigações de conteúdo e dados que circulam na internet e nas redes sociais.
A IA pode fazer muito pelos brasileiros nesse sentido, uma vez que vai ajudar a descobrir paradeiros sociais e conexões ocultas entre indivíduos e grupos perigosos, concentrando-se nos leads mais relevantes e em trechos críticos de dados, espalhados em um oceano de dados não estruturados.
Todos os dias, uma imensa quantidade de dados é produzida na chamada deep web – uma camada da web que não é indexada pelos mecanismos de busca e fica oculta ao grande público. Como não pode ser acessada por meio de pesquisas em buscadores, como o Google, e também porque não é acessada digitando um endereço em um navegador comum (Chrome, Firefox, Edge, etc), criminosos se utilizam da dificuldade de acesso para compartilhar conteúdo ilegal, como venda de drogas, pedofilia e violência. E nas eleições, o processo de disparo de notícias mentirosas não é diferente.
Acredito que as eleições de 2022 serão marcadas pela utilização maciça da IA na análise de grandes quantidades de dados abertos e profundos neste espaço online obscuro, bem como dados internos – tudo com o objetivo de revelar insights que apoiem investigações. A tecnologia pode simplificar a coleta de informação e sua inspeção, o que possibilita a visualização inteligente. Isso levaria meses para ser feito com ferramentas tradicionais.
Além disso, a tecnologia apresenta as informações mais relevantes e importantes em tempo quase real, economizando recursos normalmente empreendidos na recuperação, processamento e análise de grandes quantidades de dados não estruturados. Ao extrair insights de dados de uma ampla variedade de fontes, a ferramenta permite sua utilização no enriquecimento de leads existentes e, consequentemente, no descobrimento de novas pistas.
Esta é uma demanda da própria população, que enxerga nas notícias falsas um problema difícil de combater – sobretudo porque há uma parcela de eleitores que não se preocupam em checar a veracidade dos conteúdos que compartilham. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha com 2.556 pessoas acima de 16 anos, residentes em 181 cidades, apontou que 60% dos entrevistados acreditam que as fake news podem influenciar significativamente as eleições deste ano no Brasil. Entre os mais jovens, que estão mais habituados a utilizar redes sociais, a percepção negativa sobre a circulação de notícias falsas é ainda maior.
Sendo assim, ferramentas de Inteligência Artificial representam hoje um avanço para a democracia. A expectativa é que 2022 seja marcado por fiscalizações mais assertivas, mais vigilância e controle na disseminação de conteúdos. Tecnologia para isso já existe.
*Marcelo Comité é VP para a América Latina da Voyager Labs.