Enquanto o estado enfrenta surtos de dengue, zika e chikungunya, o governo estadual lançou um concurso público que expõe a grave crise na pesquisa científica paulista. Com apenas 11 vagas oferecidas para o Instituto Butantan, o edital ignora solenemente os 487 cargos vagos na área da Saúde – um déficit que compromete diretamente a capacidade de resposta do estado a emergências sanitárias.

Dados alarmantes obtidos:

  • 57% dos cargos de pesquisador na Saúde estão vagos (487 de 855 previstos em lei)
  • Salário inicial de R$ 5 mil – menos da metade do pago pela Embrapa
  • Perda real de 72% no poder aquisitivo dos pesquisadores desde 2013
  • 8.122 vagas abertas somando pesquisadores e carreiras de apoio

“É um cenário de terra arrasada”, denuncia Helena Dutra Lutgens, presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC). “Enquanto isso, o governo anuncia 11 vagas como se fosse solução. É como oferecer um copo d’água para apagar um incêndio florestal.”

O Mapa do Abandono:

O concurso ignora instituições estratégicas:

  • Instituto Adolfo Lutz (referência nacional em diagnósticos)
  • Instituto Dante Pazzanese (excelência em cardiologia)
  • Instituto Pasteur (combate a zoonoses)

Fontes internas revelam que laboratórios estão operando com menos da metade da equipe mínima necessária, comprometendo pesquisas urgentes sobre doenças negligenciadas e vigilância epidemiológica.

Dados da APqC mostram que:

  • 47% dos doutores contratados nos últimos 5 anos já deixaram o serviço público
  • 68% dos pesquisadores ativos estão em faixa etária próxima à aposentadoria
  • Apenas 12% dos jovens doutores aprovados em concursos permanecem após 3 anos

“Estamos perdendo nossa soberania científica”, alerta o Dr. Marcos Aurélio, pesquisador do Butantan há 22 anos. “O conhecimento acumulado em décadas está evaporando por pura negligência.”

O Outro Lado:

Procurada, a Secretaria Estadual da Saúde limitou-se a informar que “o concurso segue o planejamento orçamentário” e que “novos editais serão analisados conforme a disponibilidade financeira”. Não comentou sobre a defasagem salarial nem sobre os planos para recompor o quadro técnico.

Entenda a Crise:

  • 2013: Congelamento de concursos
  • 2018: Primeiro sinal de colapso nos institutos
  • 2021: Pandemia expõe deficiências
  • 2023: Corte de 37% no orçamento de pesquisa
  • 2025: Anúncio do concurso insuficiente

Próximos Capítulos:

Especialistas ouvidos, alertam que, mantido o ritmo atual de contratações, São Paulo levaria 44 anos para recompor seu quadro de pesquisadores – tempo suficiente para que pelo menos três novas pandemias globais ocorressem, segundo modelos da OMS.

Esta reportagem é parte da série ‘Ciência em Colapso’, que investiga o desmonte da pesquisa pública no Brasil.

By Tayliny Battistella

Historiadora e publicitária que esta se descobrindo nerd e gamer. Socio fundadora do Negócios Tech.

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