De abril a junho, foram vendidos 1,47 milhão de dispositivos vestíveis no país; fones de ouvido sem fio apresentaram maior crescimento em relação ao mesmo período de 2022, com alta de 32,5%

No segundo trimestre de 2023, foram vendidas 1.467.506 unidades de dispositivos vestíveis no Brasil, um aumento de 6,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado reflete uma retomada do segmento e foi estimulado, principalmente, pela redução dos preços médios dos produtos e aumento significativo no volume de produtos provenientes do mercado cinza. Apesar dos bons resultados de vendas, a receita total no período foi 19,1% menor do que no segundo trimestre de 2022, chegando a R$ 969,1 milhões. Os dados fazem parte do estudo IDC Tracker Brazil Wearables Q2 2023, realizado pela IDC Brasil, líder em inteligência de mercado, serviços de consultoria e conferências para as indústrias de Tecnologia da Informação e Telecomunicações.

Andréia Chopra, analista de Pesquisa e Consultoria de Consumer Devices da IDC Brasil, alerta que, mesmo diante do cenário otimista, é preciso ficar atento à forte presença do mercado paralelo, que ameaça a comercialização de produtos oficiais. “Percebe-se o aumento do interesse do consumidor e sua maior disposição em adquirir acessórios vestíveis quando comparamos ao ano passado. Porém, é preocupante a concorrência desleal do comércio de produtos sem procedência legítima, o que apresenta riscos associados à garantia, suporte técnico e segurança e privacidade das informações”.

Das unidades vendidas, 612.362, ou 41,7%, foram comercializadas via grey market. No período, o mercado cinza apresentou um aumento de 20,7% em relação ao 2º trimestre de 2022, com destaque para categorias que possuem o ticket médio de melhor valor, como wrist band e basic smartwatch.

Quando analisadas as vendas totais por tipo de produto, o estudo da IDC revela que foram vendidos 97.792 advanced smartwatches, 127.320 basic smartwatches, 303.460 fones de ouvido truly wireless com alguma conexão com a internet ou função inteligente, 174.145 basic earwears, 205.065 over ears, 366.135 tethered e 193.589 wrist bands. Com exceção dos advanced smartwatches, que caíram 46,8% e dos over ears que apresentaram pequena queda de 0,3%, os demais dispositivos tiveram incremento nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado, com crescimento de 32,5% em fones de ouvido truly wireless, de 20,6% em wrist bands, de 13,2% em tethered, 10% em basic earwears e de 7,7% em basic smartwatches. Já na comparação ao primeiro trimestre de 2023, todas as categorias apresentaram resultados melhores.

Outro ponto de análise, o ticket médio do mercado oficial também foi bastante impactado pela conjuntura atual de maior presença do mercado não oficial, como destaca Andréia Chopra: “Diante da concorrência desleal com o mercado cinza durante o 2Q23, os fabricantes adotaram estratégias que incluíram a redução de preços e a ampliação da distribuição de produtos com especificações mais simplificadas dentro de seus respectivos portfólios”. No período, os tickets médios por categoria, no mercado oficial foi de R$ 3.912,77 para advanced smartwatches, R$ 1.563,54 para basic smartwatches, R$ 639,17 para os fones de ouvido truly wireless com alguma conexão com a internet ou função inteligente, R$ 444,74 para os basic earwears, R$ 1.088,56 para os over ears, R$ 429,74 para os tethered e R$ 282,20 para as wrist bands.

Já no grey market os tickets médios foram: R$ 3.855,98 em advanced smartwatches, R$ 1.394,45 em basic smartwatches, R$ 621,78 em fones de ouvido truly wireless, R$ 450,93 em basic earwears, R$ 1.206,90 em over ears, R$ 537,89 em tethered e R$ 289,36 em wrist bands.

De acordo com a analista da IDC, foi percebido um crescimento expressivo do grey market em praticamente todas as categorias de wearables quando comparado com o 1º trimestre deste ano. “A venda de fones de ouvido truly wireless, em especial, cresceu 117% no mercado cinza em relação ao trimestre anterior. Nas demais categorias, o comércio paralelo permaneceu robusto. As wrist bands, que vinham perdendo força no mercado formal, foram revitalizadas pelo mercado cinza. Já os basic smartwatches conquistaram espaço no grey market devido à diminuição dos preços dos modelos com funções mais básicas”, destaca Andréia. “Considerando o baixo custo e a facilidade de entrada desses produtos no mercado brasileiro, é esperado que o mercado cinza ganhe uma participação ainda mais significante no setor de wearables, impactando negativamente as vendas oficiais.”

Projeções para o restante do ano

Para a IDC Brasil, os resultados do segundo trimestre indicam um otimismo para o mercado de wearables até o final do ano. Andréia Chopra observa que as datas comemorativas e de descontos, como Natal e Black Friday, serão ótimas oportunidades para alavancar o setor a partir de lançamentos e produtos premium. “Há uma expectativa de que as vendas de fim de ano tenham melhor desempenho do que no ano passado. Isso se deve, principalmente, pela intenção de muitos usuários em substituir seus aparelhos atuais e pelo interesse de novos consumidores entrarem no mercado a partir das ofertas características desse período.”

Perspectivas para 2024

De acordo com a IDC Brasil, há uma tendência de crescimento para o segmento de wearables em 2024 pelos mesmos motivos que devem impulsionar as vendas de fim de ano: substituição de dispositivos por modelos mais tecnológicos e chegada de novos consumidores. Porém, se não freado, o mercado cinza deverá continuar com forte presença no setor. “Em 2024, o grey market deve ter uma participação ainda mais abrangente, uma vez que há brechas na fiscalização que viabilizam a entrada desses produtos no Brasil. Cabe aos fabricantes destacarem a importância do mercado oficial de wearables, reforçando não apenas a autenticidade e benefícios da compra por meios oficiais, mas a integridade e confiabilidade dos seus produtos”, conclui a analista.

By Tayliny Battistella

Historiadora e publicitária que esta se descobrindo nerd e gamer. Socio fundadora do Negócios Tech.

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