“O livro está cheio de assuntos Zeitgeist, mas os trata com uma visão maravilhosamente hábil da condição humana. Há, na obra, um enredo persistente que pode soar um pouco zombeteiro, mas, nas mãos de Dawn, é realmente fascinante. Uma nova mãe – que tem se sentido amargamente desamada por seu próprio parceiro – vê outro casal transando em um carro estacionado. Inicialmente ela se sente mortalmente envergonhada, até que percebe não só que eles querem que ela assista, mas que pode até haver algo de terno neste momento silencioso compartilhado entre os três. Outros personagens lutam contra segredos de suas vidas privadas”. You Magazine

Nós somos tão sortudas e não temos do que reclamar! Essa frase carrega uma forte demanda por invalidar qualquer sentimento que contrarie a gratidão devido a, simplesmente, estarmos vivas. Essa positividade tóxica tenta anular um contexto real em que todo mundo tem problemas – e cada um está enfrentando a própria batalha sobre a qual ninguém sabe. Essas situações contemporâneas e esses cenários incômodos foram os insumos para que a escritora britânica Dawn O’Porter construísse a narrativa do romance Sortudas?. A interrogação do título, aliás, exerce uma função para além do questionamento puro, sendo uma provocação tão irônica e visceral quanto Ruby, Beth e Lauren Pearce, personagens principais de um livro agridoce e profundamente feminino. Lançado pela Primavera Editorial, a obra ganhou a hashtag #avidanãoéumapubli na versão brasileira, que conta com projeto gráfico da Nine Editorial e tradução de Beatriz Alves.

Sortudas? acompanha a vida de mulheres que não percebem, inicialmente, que o destino está reunindo-as, ou seja, juntando-as misteriosamente por suas relações complexas com o próprio corpo, a maternidade e internet. O livro de Dawn O’Porter gira em torno de três mulheres na casa dos 30 e 40 anos – uma influenciadora, uma organizadora de casamentos e uma designer especialista em tratamento de fotos – cujas vidas se entrelaçam em um evento chocante que traz à tona os verdadeiros dramas de cada uma delas. Em entrevista para o jornal The Irish Times, a autora conta que queria que o enredo fosse sobre as escolhas que as mulheres fazem para não ter de fazer o que é esperado delas. “A mensagem do livro é sobre assumir o controle de sua vida”, afirma.

Temas como masturbação feminina, abuso sexual, dogging (fazer sexo em lugares públicos com pessoas assistindo), mulheres misóginas/competição feminina, coisificação/hipersexualização, as dores da maternidade, as marcas do patriarcado, sororidade em momentos extremos e relações tóxicas são abordados com maestria pela autora em uma trama surpreendente do começo ao fim. Destemida, franca e absurdamente divertida, a obra promete conquistar mulheres de todas as idades – sobretudo as que, em algum momento da vida, duvidaram de si mesmas.

TRECHOS DO ROMANCE |

Página 52 | Ruby

“(…) Meu trabalho e meus princípios estão em batalha todos os dias. Sei muito bem o quanto uma visão negativa do seu corpo pode arruinar a vida de uma mulher, e cá estou eu perpetuando o problema e passando adiante o mesmo complexo para milhões de outras mulheres – to-dos-os-dia-as. Me livro do julgamento porque meu nome nunca aparece nas fotos, sou a parceira do crime silenciosa. A face escondida atrás da percepção falsa de beleza das pessoas. Sou a raiz do problema.”  

Página 92 | Ruby

“(…) Muito do feminismo é sobre derrubar o patriarcado. Mas todo dia eu vejo que são as próprias mulheres que estão ferindo outras mulheres.”

Página 117 | Ruby

“(…) ‘Empoderada’ é a palavra mais subjetiva do dicionário. Quando mulheres dizem que a nudez as deixam empoderadas, elas fazem milhões de mulheres que têm medo real disso se sentirem estúpidas. Minha nudez é o meu maior pesadelo. Se eu tirasse minhas roupas em público, as pessoas sentiriam repulsa. Eu pareço um macaco anoréxico. Se alguém me dissesse para abraçar meu corpo e me amar, eu diria a elas para passarem uma semana vestida como um macaco gigante e ver o quão zen elas estariam no final.”

Página 29 | Beth

“(…) Será que organizar casamentos realmente é o trabalho que deveria me afastar do meu bebezinho? Assim, se eu fosse uma enfermeira, ou uma astronauta, ou talvez estivesse a ponto de descobrir a cura do câncer, aí tudo bem, eu voltaria ao trabalho para salvar o mundo. Mas, eu organizo casamentos caros e desnecessários para pessoas extremamente ricas. Estou vendendo um produto em que não acredito de verdade.”

Página 47 | Beth

“(…) Li no site da revista Cosmo que amor e desejo são duas coisas separadas dentro de um casamento. Amor é a parte fácil, desejo é a parte desafiadora quando você passa muito tempo com a mesma pessoa. O truque é conservar o desejo vivo e fazer o que for preciso para manter um certo mistério. Uma distração para algo que seu parceiro já está acostumado. Algo novo que faça com que o seu corpo seja visto de uma maneira nova e empolgante.  Nesse momento, desde que tive meu filho, tudo que meu corpo representa para Michael é um acidente de carro e uma fábrica de leite que mantém o bebê vivo. Sou funcional, não sexual. Será que tenho que fazer com que ele preste mais atenção em mim?”.

Página 54 | Post no Instagram | Lauren Pearce

“(…) O corpo das mulheres não é magnífico? Mesmo você amando ou odiando o corpo em que nasceu, devemos ser gratas pelo que eles podem fazer. Espero que essa barriga ainda abrigue um bebê, que esses seios o alimentem. Algumas vezes esqueço que sou uma das coisas mais fortes desse mundo. Me sentindo ainda melhor usando essa lingerie da #TodaFranja. Lingerie para mulheres que querem sentir o seu poder. O que te faz poderosa? #publi #amorpróprio #bobypositive #mulheresapoiandomulheres”.

ENTREVISTAS RECENTES |

The Saturday Night Show | https://www.youtube.com/watch?v=TLhLlCpKgQ8

Glamour UK |  https://www.glamourmagazine.co.uk/article/dawn-oporter-on-apologising-at-work

The Irish Times | https://www.irishtimes.com/life-and-style/people/dawn-o-porter-i-have-an-odd-relationship-with-motherhood-1.3010173

You Magazine | https://www.you.co.uk/dawn-o-porter-interview-2019/

FICHA TÉCNICA |

Título: Sortudas? #avidarealnãoéumapubli

Autora:  Dawn O’Porter                                   

Categoria: Ficção 

Páginas:   348

Preço sugerido: R$ 49,90

E-book: 34,90

SOBRE DAWN O’PORTER | Dawn O’Porter vive em Los Angeles, nos Estados Unidos, com o marido Chris, dois filhos – Art e Valentine –, a gata Lilu e o cachorro Potato. Dawn começou a carreira como produtora de tevê, mas rapidamente passou para a frente das câmeras. Trabalhou em diversos documentários para os canais ingleses BBC e Channel 4, sendo os mais famosos os baseados nas investigações imersivas sobre poligamia, obsessão pela magreza, partos, amor livre, câncer de mama e sobre o filme Dirty Dancing – Ritmo Quente. Também trabalhou no programa This Old Thing (Channel 4), programa voltado para roupas vintage. Foi colunista mensal da Revista Glamour e teve artigos publicados em diversas revistas inglesas. Autora de seis livros, afirma que teria escrito dezesseis se não fosse o vício em stories, do Instagram. Recentemente, escreveu o roteiro Especially for You, musical que utiliza a trilha sonora do trio inglês dos anos 1980, Stock Aitken Waterman. Também possui um podcast homônimo ao livro, So Lucky (Sortudas?, em português), no qual entrevista uma variedade de convidados.

SOBRE A EDITORA | A Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas. www.primaveraeditorial.com

By Taz Assunção

Jornalista, Publicitário e Circense, sócio fundador do Negócios Tech. Gosta mesmo é de dormir e comer omelete do Lanche da Cida.

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