A criação da Aliança Internacional de Lawtech, Legal AI e Legal Innovation (AI2L), liderada pela brasileira AB2L, representa muito mais que um marco institucional: é uma resposta estrutural à crise de eficiência que assola sistemas jurídicos globais. Esta iniciativa evidencia uma verdade incontornável: o Direito, tradicionalmente conservador e fragmentado, não pode mais ignorar a revolução tecnológica como ferramenta de acesso à justiça e racionalização processual.

O setor jurídico enfrenta desafios históricos:

  • Sobrecarga sistêmica: Tribunais brasileiros acumulam 80 milhões de processos pendentes (CNJ, 2024);
  • Ineficiência econômica: Empresas gastam até 15% da receita com litígios evitáveis (IBEJ);
  • Exclusão social: 74% da população global não tem acesso a mecanismos jurídicos formais (ONU).

Neste cenário, a tecnologia deixa de ser opção para tornar-se imperativo ético. A AI2L surge como antídoto à estagnação, conectando ecossistemas de cinco continentes para compartilhar soluções testadas em realidades distintas.

O protagonismo do Brasil na coalizão não é acidental, mas fruto de maturidade do ecossistema, onde as 20 lawtechs em 2017 para 300+ startups ativas em 2025, com soluções validadas em mercados complexos;
Articulação institucional, onde a AB2L construiu pontes raras entre Judiciário (via CNJ), academia e iniciativa privada;
E, a necessidade como motor, em um País com o 4º maior litigância mundial precisava romper paradigmas.

A aliança propõe intervenções concretas em três dimensões críticas:

DimensãoProblemaSolução AI2L
Acesso à JustiçaBurocracia e custos proibitivosPlataformas unificadas de triagem preditiva
Segurança JurídicaFalta de padronização internacionalProtocolos éticos para IA cross-border
Eficiência EstatalLentidão processual crônicaÍndice Global de Inovação (benchmarking)

A iniciativa, porém, não está imune a riscos:

  • Imperialismo tecnológico: Padrões definidos por economias dominantes podem marginalizar particularidades do Sul Global;
  • Ilusão da neutralidade: Algoritmos jurídicos podem perpetuar vieses se não auditados por diversidade cultural;
  • Resistência corporativa: 68% dos escritórios tradicionais ainda veem IA como ameaça (FGV Direito SP).

A solução exige governança tripartite: Estados garantindo equilíbrio regulatório, entidades técnicas como a AI2L propondo padrões, e sociedade civil monitorando impactos sociais.

A verdadeira inovação jurídica não reside na tecnologia, mas na reinvenção do contrato social. Quando um sistema de justiça indiano utiliza NLP para reduzir em 40% o tempo de análise de habeas corpus, ou quando tribunais portugueses adotam blockchain para autenticação de provas, compartilham mais que softwares: compartilham a utopia de um Direito ágil, previsível e inclusivo.

A AI2L simboliza essa virada epistemológica: o fim do Direito como torre de marfim e sua reconstrução como infraestrutura pública digital. Seu êxito dependerá da capacidade de converter diplomacia tecnológica em ganhos concretos para cidadãos e empresas – especialmente aqueles historicamente excluídos dos códigos formais de poder.

“A lei precisa deixar de ser um labirinto onde só iniciados navegam para tornar-se uma linguagem universal decodificável pela tecnologia.”
Daniel Marques, Presidente da AB2L

Enquanto think tanks discutem teorias da justiça digital, a AI2L opera no campo prático: reduzir o custo Brasil de litígios, destravar investimentos internacionais e – acima de tudo – devolver ao Direito sua função social primordial. Seu legado será medido não pelo brilho das ferramentas que criar, mas pelo número de cidadãos que reconquistaram o direito de ter direitos.

By Tayliny Battistella

Historiadora e publicitária que esta se descobrindo nerd e gamer. Socio fundadora do Negócios Tech.

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